"O São Lourenço") Otro estupendo apunte costumbrista de Fernanda M. Mouzinho

Texto de FERNANDA MARIA MOUZINHO 

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O São Lourenço
Hoje é dia de São Lourenço… e num passado não tão longínquo era dia de roupa nova, de ir à vila… de uma das maiores feiras da localidade. Era dia de carrosséis e carrinhos de choque, de maravilhas e torrão de Alicante… Era dia de uma vila a fervilhar de actividades com gentes de cá e dos arredores. A Carreira de Baixo era completamente preenchida por barracas a vender um pouco de tudo….. misturavam-se cheiros e sons de onde sobressaía o do microfone pendurado no pescoço do vendedor de cobertores numa espécie de leilão onde, em pleno verão, se comprava o fato para a camas no inverno ou para progressivamente ir enchendo a arca do enxoval das filhas. A praça rebentava pelas costuras com venda de roupa e calçado… de chocalhos e arreios, de cerâmicas e barros… de brinquedos de plástico e de uma espécie de escadaria que mostrava um vasto leque de possibilidades de peças de cobre minuciosa expostas por tamanhos e que fazia sempre bom negócio porque não havia enxoval que não tivesse uma coleção destas peças e como o orçamento não permitia comprar do tacho mais pequeno ao maior no mesmo dia…a coleção ia-se completando feira a feira. Era também nesta montra dos cobres que muitas madrinhas se paravam para comprar as feiras às afilhadas….tradição de comprar as feiras aos afilhados ia dos brinquedos em criança às peças para o enxoval na adolescência no caso das raparigas e dos brinquedos a uma nota para o mealheiro no caso dos rapazes. Era também época de renovação dos chapéus que as senhoras compravam de palha na feira e o homens compravam de feltro na chapelaria da Rua de Olivença, rua esta também completamente absorvida pela dinâmica comercial da feira.
Na Carreira de Cima acontecia o lado social do dia, o convívio, os reencontros, as conversas sobre a agruras agrícolas, os beijinhos às tias que só víamos duas vezes por ano, onde recebíamos a moeda para o gelado e onde éramos obrigados a fazer relatório do ano escolar tantas vezes quantos nos fosse perguntado…
Era dia de vários montes de melancias no Lajeado …. produzidas por gentes de cá e vendidas só após o proprietário puxar da navalha e fazer o respectivo calo comprovando a qualidade do produto.
Era dia de festa na vila… de uma dinâmica própria de uma feira de que desconheço a origem… e da qual pouco resta….
Fernanda Maria Mouzinho

10-8-2023 

TRIBUNA da TAUROMAQUIA

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