A minha foto de perfil nas redes sociais é, há muitos anos, uma fotografia na Praça de Touros do Campo Pequeno. 
Mesmo que usurpem a identidade do local por meia dúzia de patacos e para ir beliscando a sua essência, eu, e mais meia dúzia, não vamos ceder nem deixar de ver este monumento como aquilo que é de facto, uma Praça de Touros. 
Podem lhe chamar Sagres, Cola-Cao ou até Whiskas (para agradar aos supostos amigos dos animais) … para mim e para os aficionados deste país é e será sempre a Praça de Touros do Campo Pequeno.
Praticamente todos os aficionados temos fotografias naquele belíssimo espaço. Deixo o desafio de as publicarem, de as partilharem, de as divulgarem por forma a fazer ver esta gente que existimos e que, apesar de educados e serenos, não estamos a dormir…

A autora do artigo, um dia, na Praça do Campo Pequeno

Tenho um pouco mais que meio século e dou por mim a pensar que este país está, no mínimo, estranho. 
Nem ouso abordar a situação política que atravessamos porque essa já não é estranha, já é bizarra! Mas tudo o resto é estranho. 
Parece que vivemos apáticos a ver da nossa janela passar a vida lá fora como se de um cortejo a que somos alheios se tratasse. Isto não pode dar bom resultado. Talvez porque vivemos tão sufocados pela tal enorme carga de impostos, burocracias sem limites para tudo e mais alguma coisa, manipulados pelos meios de comunicação, vítimas inconscientes da tal afamada globalização… ou por qualquer outra razão que me escapa, o facto é que parecemos espectadores da nossa própria existência. E assim, subtilmente e por entre os pingos da chuva, se vai devastando uma identidade cultural com séculos, se vai destorcendo a realidade de acordo com a vontade de alguns, se adoptam posturas sem usar do discernimento de que supostamente estamos dotados, agimos em rebanho sem questionar a validade do guia, fragmentamos a sociedade gritando “inclusão” mas apontado o dedo a todos os que não alinham com os modernos donos da verdade…. e os que estão balizados por valores que lhes foram transmitidos de gerações passadas acabam por ficar quietos porque foram ensinados a respeitar os outros. E é nesta realidade preocupante que os dias nos vão passando e ainda surpreendendo. 

Neste 2023, da cartola dos senhores “por dinheiro vale tudo” saiu uma habilidade toponímica. Resulta que a Praça de Touros do Campo Pequeno se passou a chamar Sala de Espetáculos Sagres Campo Pequeno (e levaram isto do pequeno até ao tamanho da letra!). E assim, um monumento com mais de um século, construído para ser Praça de Touros, vê castrada a sua existência por uma questão de nomenclatura (e uns euros à mistura) e passa a Sala de Espetáculos… o que poderia apenas ser para dar a ideia de um recinto mais abrangente mas que na prática será um passo para o fim da essência. Também me constou que até o Museu de Tauromaquia lá existente será para desaparecer, mas isto espero que seja um boato…

Isto é aflitivo. Isto é preocupante. Estamos a caminho do nada. Por uns euros vendemos a identidade de um povo com séculos de história. Por moda engrenamos nas modernices mais absurdas e abdicamos do que nos torna portugueses com raizes e respiração própria. Por manipulação e interesses de meia dúzia vão dez milhões deixar de poder conjugar verbos na primeira pessoa e passar a ser marionetes nas mãos de uns quantos que nos entram pela porta a dentro, sem convite para o fazer, e vendem a nossa alma à melhor oferta…
É assustador!!
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tribuna da tauromaquia 
by FERNANDA MARIA BRANCO MOUZINHO 
Fotografia : ARAÚJO MACEIRA
Recuerde : imágenes a mayor tamaño si hace click sobre ellas).
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