Jaime M. Amante) A minha pequena homenagem á memória de Gustavo Martins
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tribuna da tauromaquia
by Jaime M. Amante
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A MINHA PEQUENA HOMENAGEM Á MEMÓRIA DE GUSTAVO MARTINS.
O corpo do saudoso Gustavo Martins esteve ontem em câmara ardente na Igrejinha de Avis, e celebra-se hoje uma santa missa às 11h30, seguindo depois para o Crematório de Elvas.
A toda a família enlutada, e ao GFA de Lisboa, endereço as mais sentidas condolências.
TARDE DE TOIROS EM GÁFETE (Portalegre)
HISTÓRIA E PERIPÉCIAS DE UMA AGRADÁVEL FESTA TAURINA
Mantendo esta minha tendência para militar na memória taurina, não posso, de tentar recordar uma agradável Festa Taurina realizada na Praça de Toiros de Gáfete, corria o ano de 1988 mais concretamente a 13 de Agosto. (não estou certo do dia nem do mês, mas as referências a que recorri confirmam a data acima mencionada).
Em finais de 1987, princípios de 88, o Comendador Humberto Pardal deu início ao processo de compra da Ganadaria de José Mendes da Graça, cujo efetivo pastava na Herdade da Granjinha situada entre Tolosa e Gáfete.
Corriam as Festa locais e o Comendador organizou e ofereceu à população local uma Festa Taurina cujos benefícios económicos reverteram (creio eu ) a favor de uma Instituição local de Solidariedade Social.
Para tal, convocou a prata da casa e respetivos amigos. O espectáculo não teve publicidade nem intervenção legal, pois tratava-se de uma Festa taurina.
Para a lide de dois novilhos e duas novilhas de ferro José Mendes da Graça, compareceram os amadores Nuno Pardal e Pedro Franco mais os Forcados Juvenis de Lisboa capitaneados pelo Gustavo Martins e ainda os novilheiros Arturo Montaño (mexicano) e José Cariel (venezuelano).
De manhã partimos de Vila Franca, o Ernesto Manuel, o Arturo Montaño e eu. A velhinha Peugeot do Ernesto logo nos indicou que havia que pôr gasóleo e com a mesma passividade que hoje o caracteriza, o Ernesto logo argumentou - sem problemas o manômetro está avariado. Dá para ir e voltar……..
De acordo com o combinado com o Comendador paramos no Gavião ( para tomar café e ligar para o Monte) para o informar por onde andávamos.
- Quando chegarem vão ter a Praça de Toiros. Ou estou à vossa espera ou estarei a chegar.
A praça, pequena mas cuidada situava-se ao lado de um campo de futebol, que como tantos à época era pelado. Creio que não voltei à Vila de Gáfete.
Hoje o pequeno campo de futebol possui relva sintética e juntamente com a praça de toiros denomina-se BlueArena.
Modernismos…….
A primeira surpresa do dia, o José Cariel tinha na noite anterior ligado ao Srº Humberto Pardal a pedir muitas desculpas mas tinha sido chamado para uma substituição, para uma novilhada num pueblo perto de Cáceres.
Sem tempo para argumentar o Comendador indicou que seria eu a substituir o jovem toureiro venezuelano e apenas apresentava uma condição, eu até ao final do dia seria uma jovem promessa do toureio venezuelano e encarnaria a figura José Cariel.
Num ápice passei de nascido em Setúbal para oriundo de Maracay.
Almoçamos no Monte, e depois, direito a sesta repartida entre pequenos quartos e a sombra refrescante no exterior.
Afinal a “corrida “ era de muita responsabilidade.
Ao chegarmos à pequena “pracita” a surpresa da tarde, taurodromo completamente esgotado, composto de gente predisposta a divertir-se e a desfrutar de uma tarde bem taurina.
Junto à porta de serviço amigos de longa data, o forcadão João Manuel Matos Silva e o seu primo Hugo Teixeira que nessa tarde esteve a escassos minutos de se fardar pela primeira vez, entre muitos outros que marcaram presença. Os Irmãos Galamba compareceram para tomar conta da rapaziada mais nova dos Amadores de Lisboa, que foram capitaneados pelo Gustavo Martins o popular “Sabonete”.
Dos bandarilheiros de serviço recordo-me do João Carlos, do Jaime Barquinha, do Manadas e claro do Ernesto Manuel, entre outros.
A lide a cavalo resultou entretida e com bons momentos de toureio para os quais em muito contribuíram os excelentes novilhos de José Mendes da Graça.
Nas respectivas voltas à arena o público de Gáfete presenteava os artistas com flores,pequenas prendas e moedas e notas devidamente dobradas. O Nuno Pardal não recolhia as notas nem as moedas constrangido com a situação e eu logo disse ao Ernesto. Se no final da minha lide tiver direito a notas e moedas, tu apanha o que puderes pois temos que pôr gasóleo para voltar para Vila Franca.
Arturo Montaño esteve enorme na lide da sua novilha que saiu extraordinária. O jovem mexicano era um bom toureiro e acabou por tourear ainda um consideravel numero de espectáculos quer no Continente quer nos Açores. Regressou ao México no final do ano.
Os artistas eram anunciados, através daqueles altifalantes em forma de corneta e em alumínio e quando chegou a minha vez:- Em praça o jovem novilheiro venezuelano José Cariel.
A minha novilha não serviu embora tenha colaborado ainda no tércio de capote. Nas bandarilhas repartí tércio com o Arturo que colocou dois pares a quarteio e eu defendi-me com um par a quiebro meio manhoso.
Na muleta cedo se encerrou em tábuas e o Comendador dizia-me para a recolher pois não servia.
Ora como diz o ditado popular “ quem não tem cão, caça com gato” pôs em prática todo o meu repertório de toureiro cómico. Tirei o Comendador Humberto Pardal do sério e se nesse dia não lhe deu uma coisinha má, ficou imune. Terminei a tocar pianos nas costas da novilha e entramos os dois pela porta dos curros.
Volta a arena, flores, chapéus e mais uns escudos para o regresso a Vila Franca.
No final do espectáculo, convívio entre amigos e público em geral junto à porta dos cavaleiros e de repente ouço atrás de mim a seguinte afirmação: Com que então, novilheiro venezuelano……. Viro-me e eram uns vizinhos dos meus pais que viviam no prédio em frente. Ela era proprietária da farmácia local e durante meses quando eu ia a farmácia ela em tom irônico perguntava-me: "Tens estado na Venezuela?”
O dia podia ter acabado em tragédia, mas tudo se resolveu.
Ao regressarmos ao Monte era tempo de tomar banho. Ora só havia um chuveiro ( o Monte estava em obras) e o Nuno Pardal lembrou-se de irmos tomar banho a uma pequena albufeira que havia a escassos metros da casa. Tudo para dentro de água, e o Ernesto para não dar parte de fraco não disse a ninguém que não sabia nadar. Em escassos segundos deixamos de ver o toureiro da Calhandriz... Entre momentos de aflição e preocupação lá retiramos o artista da albufeira, são e salvo.
Mas que apanhamos um valente susto, lá isso apanhamos…
A jornada taurina terminou em Gáfete no jardim/recreio da Escola Primária em cuja frente havia um busto do Barão de Gáfete.
Jantar oferecido a todos os intervenientes com música popular e muita animação.
Deixamos Gáfete já bastante tarde e preocupados com a falta de gasóleo.
O Ernesto manteve o argumento inicial - sem problemas o manômetro está avariado. Dá para ir e voltar...
E chegamos de madrugada a Vila Franca de Xira…
Foto D.R.