A propósito de la estupenda evocación que nuestro muy querido Jaime Martínez Amante publicó sobre el aniversario de la alternativa de Mario Miguel como matador de toros, es interesante repasar también el texto que, en 2009, Miguel Sousa Azevedo publicaba sobre el mismo torero. Dice así :

Eu, sou fã de Mário Miguel...

Por Miguel Sousa Azevedo –  In “aUNIÃO” (12 agosto 2009)

Era, de todo, esperado com grande ansiedade – no meio taurino e não só… - o regresso de Mário Miguel à Terceira, agora feito matador de toiros e para lidar na Corrida das Festas da Praia, certame que haveria de se viver em chuva na passada sexta-feira. 

Sobre estas coisas dos toiros, e como praticamente em tudo na vida, gosto de escrever com frontalidade e sem voltar atrás na opinião assumida, opção que pode dar lugar a dissabores, mas o que não tem a vida que se não viva na arena? Exato, o imprevisto moldado ao saber ainda são, para mim, duas portas abertas para o livre sentir. E sobre eles bem se podem formar os textos…

A referência a Mário Miguel é aqui feita, de facto e propositadamente, pela evoluída craveira artística que possui o meu caro amigo, que este escrito foca tão só pela vertente taurina e humana de um terceirense que, creio, deixa orgulhosa a maioria dos seus conterrâneos. Mau grado as vozes fronteiras ao vento da razão, coisa de que sofre com fartura o mundo dos redondéis, não quis deixar de brindar a sua vinda à Terceira com esta pequena partilha de gostos, mesmo se as coisas nem lhe correram de feição na “prateada” Praça de Toiros Ilha Terceira, palco onde, a começarem os anos 90 do século passado, o então cavaleiro em formação deixou aplausos no ar perante a sua sobriedade e eficácia de casaca azul-turquesa vestida. 

Desta feita, e depois de firmada uma carreira onde a sorte nem sempre lhe foi valendo, era notória a vontade de triunfar perante as suas gentes e nas festas da sua cidade. Como já disse, nem tudo lhe correu bem, mas podia ter corrido. Com efeito o risco de, perante uma lide inicial onde lhe faltou oponente, querer abrir a seguinte com uma sorte de acaso duro foi uma opção criticável. Será, mas poderia ter sido o momento de uma noite. Uma das várias onde a sua estrela voou alto, ficando na retina de todos o tércio em que, uma vez mais, bandarilhou com graça e fluidez. Uma das suas assinaturas mais fortes, desde que se apeou para brilhar no chão.

Recordo aqui a opinião do saudoso amigo Ricardo Jorge que, quando Mário Miguel encerrou o Campo Pequeno (1998) para seis toiros Palha (três a cavalo e três a pé), me referiu tratar-se de “um toureiro já feito e que bandarilha como os melhores”…assim continua. Como de não esquecer foi a noite da sua alternativa como cavaleiro (1999), com o perfume das ilhas a povoar a primeira praça do país.
Mesmo se a dúvida imposta pela sua opção profissional de se dedicar ao ensino artístico e de alta escola de equitação, com sucesso granjeado para os lados do oriente, se pode pôr ao peito de quem queira desdenhar a sua dedicação, fica-me apenas retido que foi com arte que continuou a viver, partilhando sempre com o público “o verso à mesa” ou aquele “sol que brilha” que tão bem Álamo Oliveira escreveu e Carlos Alberto Moniz musicou no pasodoble que ambos lhe dedicaram.

Há quase três anos, em Cuellar, Mário Miguel tornou-se o primeiro matador de toiros açoriano, um ano depois de um poderoso triunfo nas Sanjoaninas, e numa altura em que a sua carreira flamejava, dadas as pretensões de muita gente o ver atuar nas mais diversas praças. Nessa época facilmente se poderiam aqui abreviar uns parágrafos enaltecendo os seus feitos e previsões de sucesso. Quis o tempo que outros voos se apresentassem. Assim como agora foi o tempo, para mim, e numa altura em que o toureiro recupera da colhida de há uns dias, o mais indicado para o elogio.
Por todos os motivos que possam encerrar uma sorte de porta grande. E porque é com arte que mais se podem distinguir os predestinados. Deixo apenas a minha opinião, no caso indesmentível, pois é própria e um dado adquirido. 

Eu, sou fã de Mário Miguel...

Miguel Sousa Azevedo