Divas e Toureiros - Atracção Fatal Lembram-se de quando fiz uma tentativa de análise da mente dos toureiros? Pois bem, nesta tento perceber ...
Divas e Toureiros - Atracção Fatal
Lembram-se de quando fiz uma tentativa de análise da mente dos toureiros? Pois bem, nesta tento perceber o porquê desta atracção fatal entre Divas e Toureiros. E veremos que está tudo ligado!
Uma das tristezas dos tempos modernos é o fim das divas. Estamos condenados à normalidade, a sermos todas iguais. Sempre adorei um nariz empinado, uma “refilice”, um comentário com genica e até sarcasmo, sem medo das palavras, sem medo das roupas, o pisar forte, uma sofisticação de jeitos e gostos.
Tal como o feminismo puro que hoje todos abraçam e confundem (não aquele que nos esmaga e nos tenta igualar aos homens, o contrário de ser feminina, esse não), foi fonte de tantos mal-entendidos.
Por um lado, tínhamos uma maioria de rapariguinhas simples e concordantes, bem-comportadas e sem maquilhagem.
E depois meia dúzia de mulheres com têmpora, viajadas a todos os níveis, que se vestiam melhor e tinham opiniões - apavorando os homens tanto quanto geravam curiosidade e cobiça, assustando mais ainda esposas.
Ah, as divas! Elas reinam, com sua aura de mistério, exuberância, irreverência e independência.
Elas não bajulam ninguém, nem tentam agradar todos, não precisam. Elas não imitam ninguém, são únicas, e por isto, são imitadas. Elas não ligam à máxima “menos é mais”, elas constroem a sua própria máxima. São as rainhas de todas as atenções, as que, ao entrar, fazem com que o ambiente mude, e todos os olhos se foquem nelas, como se o próprio universo quisesse homenageá-las.
Agora, pensemos nos toureiros. Eles são os Mestres da arena, figuras de elegância, charme e coragem, que desafiam o perigo com a precisão de um bailado coreografado. Os seus trajes cintilam à luz do sol, a muleta move-se com uma graça que só pode ser descrita como arte em movimento. E é aqui que se tocam: divas e toureiros têm mais em comum do que se possa imaginar. A paixão, a garra, o estilo, tudo conspira a favor destes dois.
Comecemos pela indumentária, porque, afinal, o que seria uma diva sem estilo, sem maquilhagem, sem jóias? O que seria de um toureiro sem o seu traje bordado a ouro, o “traje de luces”? Para ambos, o vestuário é muito mais do que uma escolha de moda — é uma armadura, uma declaração de guerra. Se a diva se veste para si mesma e impressionar com a sua sensualidade e sofisticação, o toureiro faz o mesmo para cumprir um ritual, e no fim de contas, para impressionar a plateia.
Mas também não se livram da fama de terem o drama como essência, não há diva sem drama, dizem. É o que a faz vibrar, o que a mantém viva. A diva transforma o ordinário em extraordinário, sempre com um toque de exagero, porque a vida precisa ser vivida com intensidade máxima. E há mais intensidade noutra vida, do que na vida de um toureiro? Cada movimento é pensado, cada passo é um prelúdio para o grande clímax, o momento em que enfrentará o perigo de frente. É claro que aqui também há drama, mas é um drama contido, uma tensão no ar que só quem está na arena pode sentir. Ambos, diva e toureiro, sabem que, sem drama, não haveria espetáculo, ambos partilham uma característica fundamental: o palco e a arena são onde eles se sentem verdadeiramente vivos.
E em muitos casos, o destino destes cruzou-se, algures entre o palco e a arena. Ela, reina soberana no palco, ele, o senhor da arena. É ali que eles enfrentam os seus medos, as suas inseguranças e, ao mesmo tempo, encontram a redenção. Para a diva, cada apresentação é uma oportunidade de eternizar o seu brilho, de provar que, independentemente da idade ou das críticas, ela é a maior. O toureiro, por sua vez, desafia a morte a cada passo, sabendo que, no fundo, está a lutar não apenas contra o touro, mas contra o próprio tempo, que um dia pode roubá-lo da arena.
A vida, como eles bem sabem, é um grande espetáculo, é curta demais para não brilhar! E o segredo é fazer de cada momento uma obra de arte.
Outra característica em comum entre os dois, podemos falar na vaidade como combustível. E não, não estou a falar daquela vaidade trivial, de quem passa por um espelho e aproveita para ajeitar o cabelo. Não, é mesmo uma vaidade quase cósmica, uma necessidade intrínseca de ser admirado, de ser visto como uma entidade acima dos mortais comuns. Porque na verdade, o são!
Ah, e como não relembrar os casos entre divas e toureiros! E por tudo o que já mencionei, o romance entre estas duas figuras tão teatrais é quase inevitável, dada a sua natureza explosiva e apaixonada.
Quem não se lembra do romance da lindíssima Ava Gardner e o Maestro Luis Miguel Dominguín? Mas mesmo sem casos amorosos à mistura, o mundo do toureio sempre exerceu um fascínio gigante em Hollywood, por exemplo, falemos de Rita Hayworth, Orson Welles, Sophia Loren, Ernst Hemingway, e tantos outros... As artes supremas, admiram-se entre elas e tanto se respeitam, como se atraem.
E de Lupe Sino e Manolete, um amor que durou até à tragédia, o que adicionou ainda mais intensidade à aura mítica de Manolete como uma figura heroica.
E do Maestro Ortega Cano e “La Más Grande” Rocío Jurado? E de Paquirri e da tonadillera Isabel Pantoja?
A arena e o palco podem ser diferentes, o toureiro, com a sua aura de bravura e masculinidade, a diva com a sua elegância e poder de sedução, são casais dignos de uma novela épica.
Mas com a nova onda bafejada pela net de tudo nivelar, a diva banalizou-se.
As novas gerações de raparigas querem todas ser divas, claro, as divas são as modernas. Umas até fazem blogues e assim, outras já pintam as unhas de cores fortes, mas ser diva não é para todas. E é esse o piadão: é um estado d’alma.
As divas não entram em Reality shows reles, nem em programas dedicados à estupidificação de domingo. O mundo avançou um pouco, mas perdeu imenso tempo a pô-las todas no mesmo saco e a confundir personalidade forte com falta de educação, independência com a Femme Fatale.
Somos quase todos iguais, mais coisa menos coisa, só que alguns têm apenas mais graça. E isso não tem mal nenhum. E elas têm muito mais piada que o resto, lamento.
O seu mundo é maior e tem vistas desafogadas e é por isso que vão à frente a segurar a lanterna.
E eu tenho a sorte de conhecer umas quantas, das verdadeiras, das que já nasceram assim.