(…) O Tó Fonseca aprendia tudo o que o tio lhe ensinava, à tarde na corrida e à noite no “Montera Niegra”, os dois sentados a beber umas “cañas”, rodeados de espanholas perfumadas. – Não se deve perder a cara aos toiros! E às vacas muito menos! – dizia, olhando em redor, conhecedor da situação.
-- É preciso não perder o sítio, tio! É sempre bom vir aos treinos.
-- Já não se toureia como dantes! Isto agora é muito cómodo para os toureiros! – explicava o Zé Portugal da Fonseca a uma guapíssima e rebolona Carmen, de “buen trapío”, perna cruzada, saia com racha até à cintura, cordovesa, perfeitamente dentro do prazo, cabelo platinado, dois cravos na orelha – vestido justo, branco e com bolas vermelhas – que alternava num dos bares de Gerez e agora a beber mais uma “copa”, por 1.500 pesetas, que o tio Zé tinha acabado de pagar.
-- Quem viu o Paquirri com os Miuras e vê estes bois de hoje não aprende nada…para esquecer. Com os toiros actuais, não se aprende nada! Já não temos toiros de verdade! Dantes sim.
-- No, los de Guardiola Fantoni son muy duros! De calidad. Eso es muy importante – replicou a assistente Carmen, ajeitando-se a mais uma “copa” – Váya por ustedes!
Manuel da Zica
Do livro “Moscas Taurinas” (2001)