"Orgulho Barranquenho!" : o artigo em falta, as indicações adequadas da Dra. Ester Tereno
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Orgulho Barranquenho!
Como diz a minha sábia Mãezinha, se é só para virem beber copos, não venham.
Há que respeitar as tradições, os nossos antepassados, e os que lutaram tanto por isto, e não foram poucos, toda a população e mais uns quantos bons amigos. Portanto, virem cá só pelo pitoresco da coisa, e sem respeitar toros de morte, as rotinas, etc., é só parvo.
E todos sabem distingui-los, os que aparecem pela hora de jantar, "fresquinhos", e que só aproveitam a noite, os bares. Mais perdem, e nunca vão entender a essência de tudo.
A agitação nos dias antes, nas casas por onde passa o toro no encerro, com todos a colocarem os ferros de protecção nas suas portas e janelas.
Os que entendem tudo isto, os abraços, as saudades, a urgência de comer uma açorda na Sociedade antes das 8 da manhã para ver os toros passarem. E não é uma largada, nem uma entrada, mas um "encerro" como já devem ter reparado, e sim, na Sociedade Recreativa Artística Barranquense (Sociedade dos Rapazes), um edifício que está situado na praça, que funciona como bar e restaurante, e durante as corridas, só lá deixa ficar dentro com vistas privilegiadas, os seus sócios.
E a esta açorda ir-se de directa, dos bailes espectaculares, de toda a vida os temos, à espanhola, com orquestras espanholas, que tocam as "nossas" músicas, que sempre cantámos, que sempre fizémos as suas coreografias, que sempre vimos os nossos pais dançarem. É o comer carne de toro com tomate todos os dias”
É o passar na rua e atirar um "só dormi 3 horas, mas agora tenho que ir ver os toros", ou "ui, ainda não fui à cama", e todos entenderem e respeitarem, porque tudo é preciso na festa!
Esses sim, são tão bem-vindos que são quase considerados como mais um dos nossos. Os que são convidados para comer uma tapinha de presunto, devidamente pendurado na praça por um grupo de amigos que todos os dias se juntam em redor dele antes da corrida para comer e beber e celebrar a vida.
É a apresentação da nova Comissão de Festas em pleno paseíllo com os toureiros, é começar a perguntar “quem trarão para o ano de toreros? etc.. Tudo gira em torno do toro, da praça!
Dois toros no dia 29, mais dois no dia 30, dia 31 um toro e uma vaca para brincar, dia 1, vacas para os mais atrevidos brincarem, aproveitar a nossa praça até ao fim, antes do desgosto de a começarem a desmontar. E não ter medo dos anti nem de ninguém, é dar as mensagens certas aos nossos jovens, o valor da vida, da amizade, das tradições, dos costumes da nossa terra. Não como agora e cada vez mais, as mensagens são que eles, os jovens, que estão a mais neste mundo (ecologismo), que não precisam de viver e experimentar, que basta viver através do telemóvel. Aqui todos são precisos e a viver com os valores correctos!
E são corridas, não são festivais, não é uma capeia, é sim uma corrida de toros de morte. E não entendo como de repente, há uma meia dúzia de anos para cá, "moda", os toureiros começaram a vir de traje curto. Se isto não é um Festival Senhores!!
Toda a minha vida a ver como brilhavam o ouro e a prata dos seus fatos debaixo do céu mais bonito do mundo, o Barranquenho. A ir à casa onde trocavam de roupa, mexer, tocar, tomar o peso daqueles fatos místicos, obras de arte pura. Não entendo.
E como diz a Lei número 19/2002 de 31 de julho do mesmo ano, no artigo 2, número 4: “A realização de qualquer espectáculo com touros de morte é excepcionalmente autorizada no caso em que sejam de atender tradições locais que se tenham mantido de forma ininterrupta, pelo menos, nos 50 anos anteriores à entrada em vigor do presente diploma, como expressão de cultura popular, nos dias em que o evento histórico se realize.”
A importância de honrar tudo isto é imensa! Apenas podem ser realizadas nestas datas e nesta obra de arte, nos tabuados! Uma obra de engenharia fabulosa, que transforma a nossa linda Praça da Liberdade numa praça de toros capaz de acolher gente e mais gente, o epicentro de tudo. Perigosa, rectangular, e berço de muita carreira de sucesso de tanto matador. Uma alegria quando os começam a construir, uma tristeza quando os desmontam. O que se vai ver sempre mal se chega, a ilusão das crianças. Para além das brincadeiras com capotes e muletas, o encerro para as crianças com insufláveis, é um êxito! A correria para comprar os lugares no tabuado (abonos), mal se colocam à venda. O arranjar lugar debaixo dos tabuados, de preferência nas primeiras filas e rezar para que os que sobem aos paus, não tapem muito as vistas. O esperar que o corredor para a maca eventualmente ter que sair da praça, não esteja ocupado por algum que bebeu demais. São as cordas devidamente penduradas nos ferros que tapam janelas e portas que dão para a praça, que permitem a muitos subirem quando o toro investe. São as cadeiras penduradas por cima das janelas.
Antes eram vários tabuados feitos por particulares, por isso era sabedoria popular, mas como não eram muito seguros, a Câmara tomou conta do assunto e começou a construir, agora já é uma mistura da sabedoria com tudo bem numerado e encaixado!!
É mais ou menos isto, de forma resumida, e sem esquema de montagem! As pessoas sabem onde colocar cada madeiro!
O frenesim na praça antes de entrar a banda, o cheiro da terra, os banhos que os bombeiros dão aos espontâneos, quando vão regar a praça antes da corrida.
Se isto não é magia e afición, não sei o que será.
Ou melhor, sei e sabemos muitos, é Orgulho Barranquenho!