TAURINISMO, ESTOICISMO, ou só a melhor forma de estar na vida...
Texto de la Dra. ESTER TERENO - Foto parcial de portada ABC.
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TAURINISMO, ESTOICISMO, ou só a melhor forma de estar na vidaGosto de Filosofia, mas não aquela de bolso, lírica e complicada, a outra, a fácil, a aplicável ao dia-a-dia, a que é capaz de nos tornar melhores.
A propósito do título desta crónica, começo por mencionar Sócrates. Mas o Filósofo grego, calma, não esse que estão a pensar agora mesmo.
O princípio da filosofia de Sócrates assenta na frase "Conhece-te a ti mesmo", o homem precisa de se auto analisar e reconhecer sua própria ignorância. E a falta que isto faz a tanta gente?
Sendo assim, Sócrates foi considerado o pai da ética (constituição de virtudes fundamentais para que o homem atingisse a plena felicidade).
E do pensamento de Sócrates surge o estoicismo, uma filosofia de virtude pessoal.
A virtude nos estóicos leva à busca de sabedoria, agir com justiça, utilizar a coragem e cultivar a disciplina. E sei bem do que falo, tive a sorte de ser criada por um.
Ora, tudo isto soa familiar, não acham? Pois é, estes são os valores do toureio, e não inventei nada, mas como também termina em “ismo”, apetece-me que seja um novo conceito. Maior que tudo, que todas as virtudes juntas. É o estoicismo elevado, enaltecido e acrescentado com alguns valores mais, esta nossa “Filosofia de vida”, soa e bem a Taurinismo.
E porque falo disto? Porque no meio de tanta festa, todos temos fresco na memória o sucedido em Santander no dia 25. Já todos comentaram este assunto, mas como deixar passar? Já que não me lembro de melhor exemplo de Taurinismo sério, que este? Um momento comovente, cativante, avassalador e didático para estes tempos em que os antis continuam a acreditar que os touros de lide podem ser guardados no quintal de casa.
Tardes como a que se viveu em Santander fazem-nos reflectir sobre a camaradagem (os toureiros sabem muito disto!), e em dose dupla; Cayetano arriscou tudo pelo seu companheiro e este pede que ajudem Cayetano primeiro. Saiu de corpo limpo contra o touro, arrancando-o dele! Não há nada mais toureiro do que arriscar sua vida para salvar a do seu parceiro.
Na tarde de 25 de julho, Roca Rey renasceu. Este é um exemplo claro de camaradagem e coragem em partes iguais. O acto de estar atento para salvar a vida do outro diante do perigo não tem preço, que coragem, bravura, humanidade e sentimento!
O mundo do touro é um mundo exemplar em termos de valores e as corridas mostram-nos quem realmente somos. Atrevo-me a dizer que hoje não existe outra profissão que reúna tantos princípios humanos como esta, pois o sacrifício, a coragem, o respeito, a dignidade e a verdade são frequentes neste mundo.
São bravos lutando por um sonho dispostos a perder a vida por ele e, a morte está a serviço dos toureiros para dar-lhes imortalidade e glória.
O toureio mantém a exigência implacável, a verdadeira meritocracia perante uma sociedade em que, se um miúdo não sabe quanto é dois mais dois, a culpa é de todos menos do miúdo.
O toureio protege a sociedade da ameaça do conformismo, da estética vazia.
É a história de seres sobrenaturais, não de tipos vulgares que vão por aí lamentando-se que têm pouco tempo para si e que a vida não corresponde com a glória que merecem.
E Roca Rey pertence aos sobrenaturais. O que move multidões, o que leva miúdos a quererem ser como ele, a encher praças! E de menino passa a lenda num ápice, chegou onde ninguém sonhava. Não é melhor nem pior que nenhum dos grandes é apenas um fenómeno. Gigante.
Tirando um ou outro mais azedo ou só torto, tem o mundo perdidamente apaixonado por ele.
Comove tanto a Realeza como a empregada do café, ele é para todos, o verdadeiro significado de elegância, um esteta raro.
Não consigo sequer escrever sobre as suas faenas, ninguém sabe como as faz, um misto de inconsciência, bravura, loucura, a forma como se arrima, e dádiva, porque partilha tudo o que o move, connosco…
Resta-nos admirar, celebrar, comover e agradecer cada faena, cada entrega.
E quem não se lembra de uma foto que circula por aí, de Roca Rey menino embevecido a olhar para o seu admirado Maestro El Juli? Outro gigante, diferente, com uma carreira invejável e admirável, que esta temporada nos deixa “órfãos”. Com um misto de gratidão e tristeza, resta-nos agradecer estando presentes aquando da sua despedida na Maestranza! Aquele que com a sua presença nos cartéis nos dá certezas, garantias sempre, de entrega, de esforço, constância e muita sabedoria. É um pedacinho de história que se despede dos ruedos, esperemos que temporariamente. E no seu comunicado a anunciar a sua retirada ainda nos agradece, como? Se somos nós que temos tanto a agradecer?
E tenho cá para mim que a nossa Filosofia de vida é a melhor de todas, e mais, que o Taurinismo devia ser ensinado nas escolas!