Numa Corrida de Touros não há, na minha opinião, intervenientes de valor menor. De quem abres as portas até quem a preside, todos desempenham o seu papel sendo o de todos e cada um vital para que o espetáculo aconteça.
Hoje ao receber esta fotografia, e com a respectiva autorização para a sua utilização, surgiu-me de imediato a expressão “echar un capote “, porque é de facto de enorme justiça usar esta frase quando fazemos um pedido de ajuda ou queremos que alguém nos dê a mão para sair de uma circunstância difícil.
Os Bandarilheiros são gente que veste de prata mas vale ouro. Entram na engrenagem do espetáculo de forma discreta, com o brilho do traje de luces mas sem a luz dos focos destinados aos protagonistas. No entanto acho que ninguém que olhe para a Corrida como um todo consegue olhar os Bandarilheiros como personagens secundários. São em muitos momentos o cerne dos acontecimentos e o baluarte de suporte para as ditas Figuras. Os bons Bandarilheiros sabem “ler” um touro aos primeiros minutos de pisar uma arena, conhecem as reações dos cavalos e a forma como isso vai incidir na lide, são exímios observadores de tudo o que acontece na arena e dela não retiram a mira. Os Bandarilheiros encerram em si a responsabilidade de ver em todos os ângulos e ter atenção a todos os detalhes, ter enorme sentido de oportunidade para agir quando necessário, ser brilhante no seu desempenho sem nunca passar a linha ténue que separa a arte do exibicionismo, antever o sítio onde vai ser preciso no momento seguinte, agir com discernimento e arte….
Os Bandarilheiros são quem está presente na lide de um Touro desde este pisa arena até que dela acaba por sair. Maioritariamente é no capote de um Bandarilheiro que o Touro tem a primeira interação e de onde os restantes intervenientes, que vão fazer parte da lide, retiram as primeiras impressões das características do oponente. O Bandarilheiro acompanha toda a lida a cavalo com a máxima atenção coadjuvando em tudo o necessário, acrescentando brilho, manejando os tempos, adivinhando os perigos. O Bandarilheiro coloca o Touro nos melhores terrenos para a pega segundo as querenças do animal e de acordo com o que o Cabo do Grupo que se destina a pega considera mais adequado. O Bandarilheiro auxilia os Campinos a encabrestar o Touro e assim o conduzir de volta aos curros.
São parte integrante da Corrida, são referidos nos cartéis em letras pequenas, (e muitas vezes nem há referências), mas a sua valia, dedicação, sensibilidade, nobreza de carácter em praça, agilidade, sabedoria, capacitação….dão-lhe uma grandeza inversamente proporcional ao tamanho das letras que os anunciam …
Não haverá como negar o papel principal que os Bandarilheiro desempenham por cá. Podem até passar despercebidos aos mais desatentos, mas bastará pensar um pouco para perceber que estamos perante gente que veste de prata mas vale ouro.
Emoldura este texto a imagem que me motivou a escrever estas linhas. A fotografia de Silvia Nunes capta um momento de absoluta atenção de um desses Bandarilheiros, Ernesto Manuel Ferreira. O registo não é de hoje, mas tenho a certeza que hoje viverá a efeméride dos 40 anos de alternativa de António Telles com a mesma atenção, compromisso e total dedicação. Em tal dia como hoje do ano de 1983 já o Bandarilheiro Ernesto Manuel fazia parte da quadrilha deste que ambos consideramos o número um do toureio a cavalo. Este é de certo um exemplo que elucida a empatia, o comprometimento, a entrega, a entreajuda e a cumplicidade criada entre dois artistas que se completam.
Aos Bandarilheiros que vejo como as peças fundamentais que unem todo o puzzle que é a lide de um Touro, o meu total respeito e admiração.
Porque tenho a certeza que há gente que veste prata mas vale ouro.
tribunadatauromaquiaibérica
by FERNANDA MARIA MOUZINHO
Foto : Silvia NUNES / na imagen : Ernesto Manuel Ferreira
by FERNANDA MARIA MOUZINHO
Foto : Silvia NUNES / na imagen : Ernesto Manuel Ferreira
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