«Nós somos os que venceram os terramotos. Os que caminharam sobre a lava de vulcões. Somos os que abriram o peito às tempestades – porque nã...
«Nós somos os que venceram os terramotos. Os que caminharam sobre a lava de vulcões. Somos os que abriram o peito às tempestades – porque não haveríamos de dançar sobre as cinzas de uma epidemia também?
Em 2022, as Sanjoaninas fazem um intervalo na celebração do passado para comemorar o presente e, com este, o futuro. O regresso à normalidade. O convívio entre as gentes. O primado dos sentidos. Este ano, portanto, respiramos fundo e saímos dançando.
E havemos de ser dos primeiros, como fomos os primeiros em tanta coisa nestes seis séculos. Em nome da benignidade do ócio e do poder redentor da alegria.
É a vitória do Homem sobre a ameaça, o que este ano comemoramos. O triunfo da esperança sobre o desespero. Esse auspicioso momento em que o medo se fez coragem e esta se transforma em júbilo. Como tantas vezes se fez vida a partir do colapso. Criação a partir do pó. Afinal, esteve sempre entre nós, a lição. Na força avassaladora dos elementos. Na vontade indómita do homem – que, apesar de tudo, prevalece.
Vivemos um tempo de desafios. Os recursos do planeta esfumam-se. A confiança na ciência dá lugar à crendice e ao desamor. Grassam o racismo, a misoginia, a homofobia, o fanatismo, o ódio. Mas nós somos os que venceram os terramotos. A nossa natureza renova-se como mais nenhuma, apesar de tudo. E, ademais, sempre tivemos os braços abertos ao outro.
Aqui, no centro do mundo, regressamos ao essencial. Filhos da compaixão e da possibilidade, respiramos fundo e saímos a dançar. Todos.»
Joel Neto.
(Extraordinário texto - como seria de esperar - do escritor terceirense Joel Neto)
Cartaz da autoria de Rúben Quadros Ramos
Cartaz da autoria de Rúben Quadros Ramos