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SE NÃO GOSTA, NÃO ESTRAGA! ) O artigo tão esperado de cada fim de mês, pela Dra Ester Tereno.

"Quem não se emocionou este mês ao ver o grande  El Juli  em Madrid a perder o troféu tangível de orelhas e porta grande?..." "Mas nas suas lágrimas estava o o…

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"Quem não se emocionou este mês ao ver o grande El Juli em Madrid a perder o troféu tangível de orelhas e porta grande?..."

"Mas nas suas lágrimas estava o orgulho de um toureiro, carregado de pundonor. Gosto de homens que não têm vergonha de mostrar sentimentos..."

Se não gosta, não estraga!

Um artigo da Dra. Ester Tereno)
Fotos : Plaza 1 / Plaza de Toros de Madrid)

Gostamos de corridas de toiros porque têm personalidade, carregadas de arte e sentimento, são belas e unem as pessoas. E é só isto que importa.

Quem não se emocionou este mês ao ver o grande El Juli em Madrid a perder o troféu tangível de orelhas e porta grande? Chorou como um menino, desmoronou-se antes de sair para receber a ovação da praça em pé. Juli, com muito peso na história taurina, já escreveu muitas páginas de glória, sofreu como uma criança. Mas nas suas lágrimas estava o orgulho de um toureiro, carregado de pundonor. Gosto de homens que não têm vergonha de mostrar sentimentos.

É ser independente e generoso, e ainda ter aquela centelha que é só de alguns, dos que se superam. Porque coragem é amor! E no amor reside o que não passa pelo filtro do cérebro, sem dramas, sem espinhas, inevitável, urgente e incandescente.


O toureio é sentimento.


Como escreveu alguém: "é como se deuses vivessem entre os homens de vez em quando."


E não, não é lirismo, é percebermos que é tão arriscado e assustador quanto pode ser excitante e glorioso. E nada é mais transgressor que uma corrida de toiros!

E o fenómeno crescente e gritante dos treinadores de bancada? Os gritos nas praças?

Falta de educação taurina, e da outra também!


Quase parece o milagre da multiplicação de comentadores desportivos na TV, mas esses, ao que sei, são pagos para lá estar...

Faz-me lembrar um par de fotos, que andaram por aí a circular, a comparar a reacção do estóico Ginés Marín aquando da última cornada, com a de um qualquer jogador de futebol deitado no chão a fazer “fita”. Não tenho nadinha contra estes últimos, mas também, nada a favor. 

Ginés é um toureiro! Cornada séria na coxa, nem olha para baixo, não olha para si mesmo, nem um tique de dor. São os últimos heróis, os últimos guardiões dos valores mais nobres e puros que ainda restam nesta sociedade estranha. Obrigada por esta valente lição de hombridade, responsabilidade e pundonor!


O toureio é sentimento e arte.


E desta arte fazem parte todo o espectáculo, as luzes, as cores, o ambiente, a festa, a música, a indumentária! E a meu ver, não se podem dissociar todas estas características, porque apenas se gosta de uma! Mas já lá vamos.


É uma arte que tem tanto de grandeza e valentia, como de subtileza, delicadeza, bravura e elegância. Por falar em elegância, o traje de luces! Pela sua beleza, tanta vez cobiçado por todos, até pelos que de touros nem querem ouvir falar. Uma obra de arte e engenharia admirável da sastreria taurina.


O toureio é arte.


O Traje de Luces, sempre o traje de luces, e não, não é um assunto secundário ou fútil. Obras de arte que não deveriam ser usadas de forma hipócrita, leviana, sem respeito por toda a história que carregam.

Sou só eu que fico doente quando vejo figuras quando saem pela puerta grande, verem o seu vestido desfeito, com machos e alamares arrancados, um sacrilégio! Quando deveria ser venerado, assim como o herói que o veste!

Só o nome… parece que corresponde aos reflexos que produzem as lantejoulas que o cobrem. O ouro um metal solar, exclusivo para toureiros, a prata um metal lunar para os toureiros de prata. Um traje tradicional, dos finais do séc. XVIII, que acabou por se converter e reajustar no traje de uso exclusivo dos toureiros.

Há coisa mais maravilhosa que os ver entrar en el ruedo, vestidos a rigor, o Capote de Paseo e Montera na mão?


De tão bonito, sempre foi cobiçado e copiado. Vejamos, a concorrente espanhola à Eurovisão, escolheu uma indumentária de inspiração taurina, um dos símbolos de Espanha disse ela. Madonna usou e abusou dele, até o Maestro Emílio Muñoz entrou num dos seus vídeos. Colecções da Dolce & Gabbana tem Manzanares como publicidade e inspiração! 

Como não reconhecer esta forma de arte? É claramente um símbolo e um orgulho de uma cultura.


Até a cantora Rosalía, que não se declara nem taurina nem anti-taurina (e isto para mim é só uma forma simpática de não chatear ninguém, pois de taurina parece-me ter zero), pelo menos reconhece que “el mundo del toro ha hecho mucho en la cultura española”. Usa e abusa de adaptações do mesmo, convida toureiros para os seus vídeos, etc.


A Infanta Elena há uns anos, levou a um casamento Real, uma criação de Lorenzo Caprile de inspiração Goyesca, e que bem que estava! Mas ela pode, porque é aficionada!


Há uns anos, a tentar estudar arte, esbarrei com Dali e a sua vida fascinante: "En una tarde de toros puedes morir de gusto o de susto”. Dizia Salvador Dali, que tanta vez assistiu a corridas e tanta vez se deixou fotografar em traje de luces!


Que raio de magia é esta que nos arrebata a tantos? E não, não percebo nada de magia, mas gostava muito.


Mais, em 1971, o mítico Pablo Picasso, desenhou um traje para o seu amigo, o matador Luis Miguel Dominguín, que hoje tem um valor de 6 milhões de euros aproximadamente!


E agora parece-me importante recordar o conceito “Tauroflamencologia” e a sua disseminação indistinta e indiscriminada por todo o lado...

Tauroflamencologia, intimidade estética entre duas artes universais! Faz referencia à relação entre dois fenómenos culturais, o Flamenco e a Tauromaquia, por varias razões sendo umas das principais, os bailaores, toureiros e cantaores pertencerem ao mesmo entorno social. 

Aplica-se também ao traje! Parece-me que usar o traje sem o respeitar ou as suas origens, é feio. 

Psiu, rapaziada, não podem gostar de uma coisa e dizer mal da outra!

O perigo da “desaculturação” é enorme, e isto assusta-me, nós que até somos da fé, não podemos um dia cair na realidade de caras, e perceber que é tarde demais para voltar ao que acreditamos ser a nossa verdade.

É como a história das escolas de Sevillanas por todo o lado, quando lhes perguntam sobre toiros, “ah não, somos completamente contra essa violência bla bla…”, e o ataque de flamencura generalizado… em todo o lado, lunares volantes e rumbas e sevillanas, ok, é giro, para mim é sempre um gosto, parece que estou casa! Se faz sentido, nem tanto, e entendo que são modas, mas não temos que ser todos iguais!


Lamento, é indiscutível a associação estética entre todas estas artes, seja com elementos procedentes da tauromaquia no cante, seja nas semelhanças entre o traje de luces ou o corto campero e a vestimenta usada para o baile Flamenco (por exemplo, o enorme Camarón de la Isla toureava sempre que podia). 

Portanto, flamenco, toureio, trajes, possuem raízes comuns e resumindo, são artes inseparáveis!

E parece-me lindamente que se usem adaptações do traje por quem admira todo este pacote (sim, é um pacote que inclui muito mais que a indumentária), mas parece-me muito feio que seja “usado e abusado” por quem nada disto respeita. Não me parece bem dizer que se adora o traje e o flamenco, mas que não se gosta de toiros, santa paciência!!! 

A solidez de convicções é do caraças! A solidez adora o seu pequeno prazer, óbvio, ui, e cada vez mais, mas não precisa da vaidade constante do ego.


Resumindo: o amor e orgulho pelas nossas terras, raízes, símbolos culturais, aquela cena mágica que nos tira do sério, que nos faz ser muito unidos e sair do nosso pequeno umbigo, é um motor de vida. O resto são molduras em naperons cheios de pó e uma crónica falta de amor-próprio. 

O amor e a cultura e a coerência, são as coisas mais incríveis de todas, pessoas, devíamos mesmo de começar a tratá-los melhor.


"Ginés é um toureiro! Cornada séria na coxa, nem olha para baixo, não olha para si mesmo, nem um tique de dor. São os últimos heróis, os últimos guardiões dos valores mais nobres e puros que ainda restam nesta sociedade estranha..."

"... a comparar a reacção do estóico Ginés Marín aquando da última cornada, com a de um qualquer jogador de futebol deitado no chão a fazer “fita”..."

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