"A CAP e a Tauromaquia", un interesante relato de Manuel Peralta Godinho e Cunha
Manuel Peralta Godinho e Cunha escribía esto que sigue, en febrero de 2018...
A CAP e a Tauromaquia
A CAP e a Tauromaquia
Cerca de meio século durou o Estado Novo, assistindo ao seu lado a uma violenta Guerra Civil em Espanha (1936/39), conseguindo evitar o envolvimento da Segunda Guerra Mundial (1939/45), sofrendo a anexação por parte da Índia do Estado Português de Goa, Damão e Diu (1961) e participando em três frentes de combate enfrentando a guerrilha nos territórios ultramarinos da África Portuguesa durante treze anos (1961/74).
Com o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, cai o governo de Marcelo Caetano e Portugal entra num processo revolucionário onde pontificaram os defensores do marxismo-leninismo que a mando da União Soviética provocaram uma acelerada e atabalhoada independência das colónias portuguesas.
Portugal entra no PREC – Processo Revolucionário em Curso – com muitíssimos Partidos escrevinhando nas paredes as suas siglas e palavras de ordem revolucionária e oradores de megafone e punho erguido em sucessivas manifestações proclamando as delícias dos socialismos albaneses, chineses, russos, coreanos, jugoslavos e outras utopias radicais, contando com os regressados políticos exilados, com os antigos clandestinos políticos e com os presos políticos entretanto em liberdade, mas também com muitos outros oriundos das classes burguesas, com boinas “à Guevara”, que por oportunismo se mascaravam de marxistas apregoando “uma liberdade rumo ao comunismo”.
Tal como interessava à União Soviética e os militares revolucionários portugueses obedeceram, o Ultramar português foi abandonado e o regresso desordenado à Metrópole de muitos milhares de famílias que residiam e trabalhavam em Angola. Moçambique e Guiné.
Tal como interessava à União Soviética e os militares revolucionários portugueses obedeceram, o Ultramar português foi abandonado e o regresso desordenado à Metrópole de muitos milhares de famílias que residiam e trabalhavam em Angola. Moçambique e Guiné.
Ninguém se entendia e o país esteve à beira de uma Guerra Civil. Avançou no sul do país e depois no centro a ocupação das terras de lavoura numa denominada “reforma agrária” com a expulsão dos legítimos proprietários e o roubo de gados, alfaias e equipamentos agrícolas nos anos confusos de 1975, 1976 e seguintes.
Os agricultores filiados na CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal – tomaram variadíssimas posições políticas em defesa da lavoura e contra as ocupações das herdades no Alentejo e Ribatejo, regiões onde tinha sido fortemente prejudicada a ganadaria brava porque nas terras ocupadas começava a perder-se, por completo desconhecimento e incúria dos ocupantes, o trabalho de longos anos de selecção das raças bravas.
Assim, realizou-se a primeira Corrida da CAP em 24 de Outubro de 1976 que foi considerada como um movimento político da lavoura. Sim, na realidade foi também um movimento político contra a ocupação das terras. Praça completamente cheia. Toiros de diversas ganadarias para os cavaleiros Dr. Fernando Salgueiro, David Ribeiro Telles, José Samuel Lupi, Gustavo Zenkl, José Sommer d’Andrade e João Moura, com os Grupos de Forcados Amadores de Santarém (cabo José Manuel Barreiros) e de Évora (cabo João Nunes Patinhas).
Seguiram-se mais duas Corridas de Toiros da CAP em Santarém nos anos de 1977 e 1978, quando continuava a ser necessária a presença forte da lavoura em manifestações contra a chamada “reforma agrária”. A Praça de Toiros de Santarém com os 12.500 lugares foi insuficiente para os que queriam demonstrar o apoio à Confederação dos Agricultores de Portugal.
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Na foto o cite de João Nunes Patinhas com primeira ajuda de Joaquim Murteira Correia (segunda corrida da CAP - 24 de Abril de 1977).