TRIBUNA da TAUROMAQUIA IBÉRICA
by Dra. ESTER TERENO
Fotos : ROSALEA RYAN
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Perguntas-Chave de Sobrevivência Taurina


Desta vez trago-vos uma série de perguntas e as respectivas respostas, feitas por amigos estrangeiros e por “vizinhança” estrangeira numa corrida qualquer, que nada têm a ver com cultura latina, sul-americana, nada! E ter que explicar o que ali se passa e a forma de viver toda esta arte. E o interessante de tudo isto, são os olhos ingénuos e puros com que assistem e ouvem as explicações, tão menos preconceituosos que os nossos compatriotas que são contra só porque sim, sem quererem saber mais nada.


Pergunta: É um espectáculo muito bonito, e são todos muito valentes, quanto recebem os forcados por arriscarem assim a vida?

Resposta: Por incrível que pareça, os forcados não recebem.


Pergunta: É verdade que a tourada envolve o sofrimento de um animal para divertir um sector específico da sociedade?

Resposta: É uma leitura em que os aficionados têm uma relação patológica, que vamos com o único propósito de ver o mal a acontecer. Mas se assim fosse, porque não se reúnem também para testemunhar a morte dos animais em matadouros? A tourada é sangrenta, mas não cruel. É um rito civilizado e civilizador. Não é que seja fácil explicar as touradas porque na verdade, são um mistério.


Pergunta: Nas corridas há alegria, música, uma energia contagiante, é sempre assim?

Resposta: Sim, não se compara com nenhum outro espetáculo, desporto, o que seja. As pessoas unem-se numa celebração comum, a festa, a sua festa!


Pergunta: Em que consiste respeitar os animais?

Resposta: Costuma pensar-se que, se não é um animalista, é porque despreza os animais. Surge uma dicotomia: ou pensa que eles são iguais aos humanos ou os animais não importam, são apenas um objecto. 

Se somos responsáveis ​​pelos animais é porque temos uma responsabilidade que eles não têm: eles não a atribuem uns aos outros nem a nós. Essa elevação torna-nos superiores, portadores de deveres, mas como cuidadores. Tenho a sensação de que a sociedade está a chegar ao fim do caminho do puritanismo e do proibicionismo e logo teremos uma reviravolta. E a tauromaquia voltará a ser vista como algo que nada tem a ver com o que é rançoso, velho, anacrónico... Isso não quer dizer que o mundo tauromáquico não cresça e não possa melhorar.


Pergunta: Os touros são de esquerda ou de direita?

Resposta: Os touros são muito mais que partidos políticos, e mesmo, do que uma festa nacional. Os touros são populares no significado mais heterogéneo e aberto. Ligá-los à direita é tão ridículo quanto à esquerda. Na verdade, o problema de proibir touros não são os touros, mas a proibição. Começou por ser em nome do bem-estar animal. E bem-estar infantil, porque querem generalizar o impedimento do acesso a menores. Afaste-os dos templos do mal, dizem. Mudar de sexo aos 16 é acertado, ir aos touros é que não!


Pergunta: Não é agressivo ou “abusivo” levar crianças às corridas?

Resposta: Nada, pelo contrário, as crianças e jovens que frequentam ambientes taurinos, são muito mais bem-educadas e atrevo-me a dizer, felizes. Aliás, se formos ver índices de violência e criminalidade, não serão nas terras com tradições taurinas onde estes são mais elevados.


Pergunta: Haverá touradas daqui a 50 anos?

Resposta: Claro. As circunstâncias que ameaçam as touradas são mais o reflexo de uma sociedade doente do que um problema das próprias touradas. Refiro-me a uma sociedade que confunde verdadeiros heróis com impostores, igualdade com homogeneidade... Isso abre um caminho de provocação e expectativas.

O heroísmo foi democratizado. Qualquer um se pode tornar num Hércules depois de salvar um animal de estimação em perigo, já o toureiro concebe a sua missão a partir da consciência do perigo. Por exemplo, é mais provável que passem imagens em telejornais deste mesmo Hércules, mas não do valente Francisco José Espada, que terminou a lide com duas cornadas em Madrid!


Pergunta: Porque os toureiros e os outros intervenientes se vestem assim?

Resposta: Os touros são festa e transgressão, devem ser reconhecidos e sublimados pela estética e pela coragem. As calças de ganga de um Primeiro-Ministro num acto oficial implicam uma banalização das instituições e da forma. Um juiz não veste toga para se disfarçar, mas para solenizar a suprema noção das leis.

É uma forma de compreender a relação entre a tauromaquia e o mistério que a envolve. Não há roupa mais desconfortável do que um traje de luces, mas a seda e o ouro revestem o toureiro para uma missão excepcional. Nenhum soldado vai para a guerra de casaquinho de lã para o frio, assim como um bispo não pode estar de fato de treino.

A tourada é uma arte extrema. E não é substituível por Inteligência Artificial, como tantas funções serão. É verdade, é coragem. Não há substituições dos intervenientes e também não há como substituir o ambiente que se viveu na Moita no passado dia 28, praça cheia! Mas um dia falarei mais sobre isto. 


Muitos dizem que só se vive uma vez, pelo contrário, só se morre uma vez, vivemos todos os dias. E os toureiros sabem-no muito bem!