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José Maria Batista, mais conhecido por "Canolho" ou "Zé Maria dos Cornos", é uma figura típica de Almeirim que dedicou 60 anos da sua vida ao folclore. (Foto : O MIRANTE)



Conhecido pelos cornos foi no folclore que deixou marcas ao longo de 60 anos...
 
Tornou-se conhecido pelo pitoresco de andar a vender cornos nos restaurantes de Almeirim, às vezes mantas ribatejanas, de Minde, sendo a figura mais típica da cidade perante os milhares que a procuram para se deliciarem com a sopa de pedra.

Com os cornos foi sustentando a família e com o folclore alimentou o espírito de defensor das tradições e da cultura. Ajudou a fundar e ensaiou ranchos no seu concelho e fora dele e esteve dez anos em África a ensinar as danças e cantares típicos de um país em ditadura que estava fechado ao mundo.


Muitos dos que o vêem ainda hoje, com 85 anos, a vender cornos de toiros na zona dos restaurantes da sopa de pedra em Almeirim não imaginam o que José Maria Batista, “Canolho” e “Zé dos Cornos” de alcunhas, já somou de dedicação ao folclore, promovendo a arte e ajudando a criar ou desenvolver grupos na sua terra e fora dela. Nascido em 1937 no bairro da Tróia, dos mais típicos da cidade, desde muito novo se dedicou ao folclore. Aos 18 anos juntou-se ao grupo que fundou o Rancho da Casa do Povo de Almeirim, em 1956, tendo sido o primeiro fandanguista com o tio Joaquim “Polícia”, o primeiro ensaiador do agrupamento. Depois ajudou a criar o grupo infantil e começa a dar nas vistas como ensaiador, primeiro do já inactivo Rancho da Quinta da Alorna, onde foi trabalhador rural, e depois em África.
Em Angola, esteve a ensaiar o Rancho Folclórico da Casa do Ribatejo do Lobito, de 1965 a 1975, num país em guerra pela descolonização, o que, mesmo assim, não o impediu de andar com o grupo por vários pontos da então colónia portuguesa, incluindo a capital, Luanda. Foi neste território africano que também deu os primeiros passos nas marchas populares e a sua dedicação e saber são recompensadas com sucessos. A Marcha da Caponte, que formou em Angola, ganhou logo no primeiro ano o primeiro prémio das Grandes Marchas do Lobito. No segundo ano já tinha formado a segunda, a Marcha Infantil da Casa do Ribatejo do Lobito, e as duas arrecadaram o primeiro prémio nas categorias adulto e infantil. Na década de 80 voltou a formar marchas, desta vez em Benfica do Ribatejo.
Após a revolução do 25 de Abril regressou a Almeirim, mas só parava em casa para arranjar os cornos com os quais ganhava a vida e se tornava conhecido pelos muitos visitantes que procuram Almeirim para comer a sopa de pedra. Sempre esteve no folclore abnegadamente e foi desse modo que, como ensaiador, deu início ao Rancho Folclórico da Gouxaria, no concelho de Alcanena, para onde se deslocava à sua custa as vezes que fossem precisas, além de acompanhar a formação nas actuações pelo país fora. O rancho apresentou-se em 1985 com seis meses de ensaios. José Maria Batista a ensinou a arte neste agrupamento durante seis anos sem ganhar um cêntimo.

Sem nunca recusar ajuda
Andou seis décadas no folclore e nunca recusou ajudar os grupos do concelho de Almeirim que procuravam o seu saber tendo ajudado a lançar o Rancho Folclórico de Benfica do Ribatejo, que se estreou em 1980 e que nos primeiros cinco anos teve actuações em Inglaterra e Itália. Três anos depois do rancho adulto estreou o grupo infantil que teve logo uma actuação em França, em 1984, um ano após iniciar actividade. Criou o segundo grupo infantil, o de Almeirim, que entre 1988 e 1990 actuou na Turquia e na Jugoslávia. Chegou a ensaiar três grupos em simultâneo: o de Benfica do Ribatejo, o da Gouxaria e o infantil de Almeirim. Com o Rancho Folclórico da Velha Guarda de Almeirim, de que foi também um dos fundadores, mostrou as danças e cantares em vários países, como Canadá ou França. Nesta localidade do concelho de Almeirim também formou as marchas de 1981 e 1984.

Milhares de crianças e adultos que ensinou e ajudou
O Agrupamento “Os Maduros do Folclore de Cortiçóis”, homenagearam-no e classificaram-no como um dos maiores dançarino e fandanguista ribatejano, que ensinou a sua arte a várias gerações, sempre de forma abnegada. Foi também o primeiro a fazer par com a esposa. O gosto pelas danças e cantares acompanhou-o desde tenra idade quando assistia aos bailes na Rua Angola, no típico bairro da Tróia, tendo começado cedo a aprender o fandango com o pai e as danças tradicionais com as tias e as pessoas mais velhas do bairro. “Dediquei com muito gosto 60 anos da minha vida à cultura da minha terra, do meu concelho, do meu distrito, levando o nome do meu país pelo mundo fora. Foram milhares de crianças, homens e mulheres que tive o prazer de ensinar e, sobretudo, ajudar a serem bons homens e mulheres”, sublinha José Maria Batista.