"Tradições são construídas ao longo do tempo. A modernização acontece de repente. Décadas, séculos, milénios varridos num piscar de olhos.

Uma tradição, uma vez perdida, não é facilmente recuperada".


Um artigo da Dra. Ester Tereno


Por acaso sabem que em Espanha já estão presentes em alguns supermercados, insectos para alimentação humana, pois diz que são bons para a dieta humana? Parece que alguns povos já os comem há tempos, agora nós? Ah, e até implicam pouco consumo de água no processo, pasme-se. Tudo a bem do clima, claro, e do progresso dizem.


Mas nada vence a história de haver vinho vegan, logo eu que pensava que o vinho era derivado do leite de vaca... e sim, há processos de clarificação e de fermentação que não são vegetais, mas quem me garante a mim que durante todo o processo não existiu um único insecto que os seus fluídos tenham acabado numa garrafa de vinho?


A modernização, sempre a modernização a bater de frente com a tradição!

Não se preocupem, esta conversa não é sobre como as coisas nunca devem mudar.

Elas podem- e devem.

A verdadeira questão é quando, porquê e como essa mudança deve ser cuidadosamente supervisionada.


E nem nunca tentarei argumentar que uma tradição em particular é melhor do que qualquer outra (claro que a da minha terra é melhor que todas as outras, e que a tauromaquia também!).


Mas por que a tradição é importante? Há duas razões principais: Identidade e Sabedoria.

As tradições muitas vezes não têm um propósito económico ou funcional claro. "Fazemos porque sempre fizemos."

Esta é a génese da identidade; uma prática ou crença com significado especial que nos define, à nossa família, à nossa cidade, ao nosso país e aí por diante.


Isto pode ser qualquer coisa, desde um estilo particular de arquitetura até gastronomias regionais, música folclórica, idiomas ou dialetos, festivais, rituais ou costumes religiosos.


As tradições representam as lições dos nossos antepassados, passadas para as gerações futuras.


Então, qual é o problema com a modernização? É como um instinto de sobrevivência: "se não modernizarmos, ficaremos para trás!"


E isto é compreensível, especialmente quando a tradição aparentemente se torna um obstáculo ao progresso. Mas pode ir longe demais.


Todos nós já nos deparamos com uma modernização tão implacável, é como uma força imparável, inconsciente e conquistadora.


Mas as pessoas parecem resignadas ao facto de que "as coisas devem mudar" sem perceber que a mudança é sempre uma escolha.


Tradições são construídas ao longo do tempo. A modernização acontece de repente. Décadas, séculos, milénios - varridos num piscar de olhos.

Uma tradição, uma vez perdida, não é facilmente recuperada.


Por tudo isto é tão importante falar em Loures, que viu a sua corrida anual ser interrompida desde 2006, até este ano, que corajosamente voltou a ser realizada! Serão valentes ou não? E mais, ao contrário da grande parte dos concelhos associados à tauromaquia, esta corrida não contou com o apoio da Câmara Municipal de Loures, embora a autarquia tenha dado autorização para o evento. Já faltaria, “nós até nem temos nada contra, mas não queremos arranjar chatices blá blá”. E claro, a organização do evento não tardou a receber diversas críticas e ameaças. Onde é que eu já vi isto? 


Já Vila do Conde foi adiada, mas isso são outras conversas, a falta de honra, verticalidade, de palavra!


Diz que é a bem do progresso, que em 2022 já não se pode admitir este grau de barbárie, “incultura” etc. A sério que acham que o progresso tem alguma coisa que ver com o assunto?


Agora os fotógrafos taurinos não podem estar nas trincheiras, não entendo o porquê, mas sei que isto não me cheira bem, é mais um “aperto” imposto, para ir “moldando” tudo até onde querem chegar. 


Já estamos só com 4 corridas da Catedral do Toureio em Lisboa, a ver vamos. A primeira foi como se esperava, um hino à nossa liberdade para assistir e matar saudades enquanto aficionados. Para a próxima, o cavaleiro mexicano Emiliano Gamero fez um vídeo promocional espetacular! Teve que ser um estrangeiro a fazer uma coisa de qualidade a promover a nossa terra e a nossa tauromaquia? Haja alguém que defenda todo este nosso mundo de um suposto “progresso” desenfreado. E o progresso pelo progresso tipifica o lado perigoso da modernização.

E esta corrói a identidade, dissolve a herança cultural e rejeita a sabedoria conquistada com tanto esforço pelos nossos antepassados.


Parece ser um dos problemas que definem o mundo moderno globalizado e digitalizado, que nos querem uma massa amorfa, facilmente manobrável e moldável.


E agora as palavras da Alcaldesa de Santander, Gema Igual, já sabem que tenho um fraquinho por autarcas que defendem as tradições dos povos que representam “é nossa obrigação honrar as nossas tradições; a tauromaquia não é só arte, cultura, ecologia, é também uma fonte económica importantíssima”. Não é preciso dizer mais nada, pois não?


"... o cavaleiro mexicano Emiliano Gamero fez um vídeo promocional espetacular! Teve que ser um estrangeiro a fazer uma coisa de qualidade a promover a nossa terra e a nossa tauromaquia?"


Por certo, já repararam no crescente de discussões inúteis, intermináveis, agressivas? Gente a defender as maiores asneiras, e orgulhando-se disso. Pessoas perseguindo e ameaçando outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Tornando animais de estimação em verdadeiros humanos. Líderes políticos imbecis. De há uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhado na burrice. Alguém já teve esta sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a diminuir. 


Pois bem, O QI médio da população mundial, que desde o pós-guerra até o final da década de 1990 sempre aumentou, cai a pique nas últimas duas décadas...

Esta é uma reversão do efeito Flynn. Pode haver muitas causas para este fenómeno. Um deles poderia ser o empobrecimento da linguagem.

Vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da língua: não se trata apenas da redução do vocabulário utilizado, mas também das subtilezas linguísticas que permitem a elaboração e formulação do pensamento complexo.

Letras maiúsculas e pontuação ausentes são exemplos de "golpes fatais" na precisão e variedade de expressão. Só um exemplo: eliminar a palavra "Senhorita" (já obsoleta) não significa apenas abdicar da estética de uma palavra... mas também promovem inadvertidamente a ideia de que não há estágios intermédios entre uma menina e uma mulher.

Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar o pensamento.

Ou seja, menos capacidade verbal, menos expressão e menos manuseio da linguagem = EMBRUTECIMENTO.

Empobreça a sua língua e empobrecerá o seu pensamento em três tempos!


Mais, a evolução da tecnologia levou o indivíduo a não ter que pensar ou falar, muito menos agir. Crianças e jovens passam mais horas na internet ou em jogos do que com um livro na mão.


Já devem ter ouvido falar no TikTok, que consta de vídeos curtos, (sim que ninguém tem paciência para ler nada), onde todos podem ser especialistas em dança (que de dança não tem absolutamente nada), faz do sucesso mediático mais fácil, mais acessível, rápido, artificial, acriançado até, consumos básicos descartáveis. 

E o toureio não é nada disto, é a sério, acontece e ninguém pode fingir nada, exige esforço e dedicação, é arte pura e entrega. 

Por isto é tão importante que nada disto se perca no caminho do progresso e da bicharada!