Imaginem se Descartes descobre que há gente que não pensa e existe...


Por Ester Tereno.


Gosto do argumento “não posso acreditar que existam guerras no século XXI”. Se calhar pensam que as pessoas matam há milhares de anos porque eram idiotas e agora, na era das redes sociais, não. A idiotice não evolui.


Por falar em idiotice, não sei se conhecem este “palavrão”, Neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do sistema nervoso de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional ao longo do desenvolvimento neuronal, quando o sujeito é exposto a novas experiências. 

Mas, deixando de lado as neurociências, existem princípios intrínsecos, nas nossas entranhas, que acreditamos e defendemos com unhas e dentes, e que não alteramos nunca!


Ora, achamos mesmo que uma pessoa tem “plasticidade” suficiente para mudar princípios tão “entranhados”? 

Bom, de valores e divisões entenderá, e de “conflitos entre humanos e gaivotas” também. Até seria compreensível se mudasse ao fim de uns anos/décadas, agora rapidamente e desta forma, parece-me contorcionismo. 

Há linhas que não se devem ultrapassar, e todos conseguimos imaginar, ou mesmo já vivemos, o inferno que é trabalhar com alguém tão intrinsecamente contra! Não entendo, nem um lado, nem outro, mas não me cabe a mim entender, apenas esperar para que tudo corra pelo melhor.

Imaginem se Descartes descobre que há gente que não pensa e existe...


Depois, vemos uma discográfica que não se entende se tem alguma cláusula específica que descrimine espetáculos taurinos, ou não. E nem sei se foi por força dos princípios e convicção do Luís Trigacheiro, se a empresa voltou atrás na sua decisão, mas bravo! Mais valentes assim, se assim for! 


Não gostamos dos “contra”, mas a neutralidade, permissividade, também não é boa, falta-lhe “espinha”, coluna vertebral! Salvo em ocasiões especiais, diz muito sobre uma pessoa, um “não me quero chatear” ou o “eles que se entendam” são a base estrutural da sociedade que vê o confronto de ideias como um ataque e que prefere ficar na situação impossível da paz podre. Horror!!!

Estaremos condenados à normalidade? À cultura rasa? À ditadura do todos-iguais? Temos que ser anti-taurinos, saudáveis, sem sal, sem glúten, ter cães nos apartamentos, vai a carneirada toda atrás e é normal. Desculpem, mas não!


Por isto e muito mais, gosto tanto de gente com “nervo”, carácter e acima de tudo, independência, os que dizem o que todos têm medo de dizer porque não convém. Bolas, são tão poucos!


Andamos há uns valentes anos a bater no mesmo, mas pelos últimos acontecimentos, parece que anda tudo mais “atento”, e seria bom que não se perdesse este balanço, não chegam conversas de bastidores. 

Pensar na tauromaquia e tudo o que a rodeia, não apenas como um recreio de massas, lugares para se ser visto e ignorar as cunhas (o nosso país adora cunhas, mas não vou falar do governo, prometo!).

Se todos pensarmos apenas numa direcção, a da festa em si, num todo, conseguimos perceber o belo que é o sentido de comunhão, o sol e o vento no rosto, as faenas inesperadas, pessoas, estados de espírito.


Por falar em inesperado, este fim-de-semana David Galván na Copa Chenel, superou-se e deu a volta à tragédia! E dei conta da magia dos touros, mais uma vez, e é sempre assim, surpreende-me sempre. Um espetáculo entre a vida e a morte, único, verdadeiro e digno. 

E Pablo Aguado em Castellón, um cataclismo, uma debilidade para nós, a reunião, o temple, a suavidade. Como o próprio disse: “Cuando uno se va a dormir es cuando, quizá más torea”.

E percebo porque gosto tanto de touros, sempre me emocionam como da primeira vez, memorável.


E que dizer de Victoria Federica, a render homenagem à Andaluzia e à Festa Brava, com um visual toureiro, pura arte, na festa da revista ELLE Espanha. Que seja a sobrinha do Rei, que o homem que mais admira seja o seu avô, com quem assistia a corridas de touros, e que seja “a” miúda da moda, é super importante! Nestes tempos, ter uma jovem que não tem vergonha, medo ou preconceito de se mostrar e afirmar taurina, não tem preço! Já tinha assistido à apresentação da Feria de San Isidro em Madrid, como não gostar dela, mesmo sem a conhecer? A beleza, meus caros, a estética...

  

A “nossa arte” reúne, pelo menos, estas qualidades únicas, e são precisamente as que me são mais caras: independência, estética, beleza e liberdade. Sendo a beleza entendida como a justeza das coisas, o amor ao justo e ao verdadeiro.

Só este nosso mundo tem uma luz assim, única, inexplicável e bela.


Dra. Ester Tereno