João Parreira, nuestro colaborador y amigo de la TRIBUNA da TAUROMAQUIA IBÉRICA, nos ofrece hoy un interesante artículo sobre el actual momento de la Fiesta de los Toros en Portugal, las situaciones derivadas del tiempo de Covid y el estado de cosas con el que llegamos a la estación otoñal en este 2021...

Outono, tempo de touros.

Por João Parreira.


Apesar de me ter inspirado no título num programa sobre a temática taurina da televisão de Castilla la Mancha. Este texto de opinião traduz a minha visão sobre o panorama taurino português em tempos de pandemia. Já lá vão 1 ano… e muitos meses…


Portugal, tem uma tauromaquia peculiar, que para mim, muitas vezes funde-se com o sangue das gentes das terras mais castiças do Alentejo e do Ribatejo. Não me posso esquecer das gentes da Raia da Beira Alta, que atravessam meia Europa para virem segurarem no forcão. Bem como, as ruas da Ilha Terceira onde o touro à corda é rei. Ou até mesmo da "neblina silenciosa" no momento da pega na praça de touros da Nazaré. 


A pandemia parou o Mundo. Por cá desde março de 2020, que a tauromaquia resiste às consequências da pandemia, mas também a muitos agentes da nossa sociedade e a certas tendências urbanas que estão em voga no momento.

É a poder de muita força, garra e coragem que foi possível a tauromaquia voltar. Passado uns meses após o país ter parado. Infelizmente a tauromaquia popular não vê um touro na rua desde o ano de 2019.


Apesar de tudo, por consequência da pandemia, a tauromaquia em Portugal tornou-se mais intimista.

Os ganadeiros, tiveram de fazer contas e começaram a um processo penoso e de difícil decisão, ter de reduzir efetivos e camadas.

Muito deste processo de seleção foi feito na “intimidade “da praça de tentas, nas herdades do Alentejo e do Ribatejo, fora do olhar e da crítica do aficionado.

Quem aproveitou bem estes “laboratórios de Bravura” foram matadores, novilheiros e cavaleiros. É certo que a qualidade da “Cabana Brava Nacional” irá ter maior qualidade e o tempo o dirá. 

Embora seja um trabalho moroso e difícil, a pandemia poderá ter ajudado no processo de seleção de algumas ganadarias portuguesas. 


Ao invés disso, os grupos de forcados. Que se ficaram por alguns treinos á socapa antes das corridas ou pelas entrevistas nas redes sociais. Houve grupos que nem uma corrida tiveram para pegar. A pandemia prejudicou em muito “a alma” da corrida de touros em Portugal.


A temporada de 2020 começou tardiamente. Em julho! Num ano normal, estávamos quase no “Equador da temporada”. No entanto, ainda houve tempo para um total de 42 espetáculos. Algumas das principais feiras taurinas puderam acontecer, e houve “praças à cunha”, bem como, lides e pegas que irão ficar na memória dos aficionados que estiveram presentes.


Chegou 2021, as medidas de prevenção da DGS são as mesmas de 2020. Condicionando logo de início a temporada taurina.

A temporada começou em maio, mas a tauromaquia popular, ficou desde logo afastada. Em França sempre houve touros nas ruas, os vídeos vindos da Camarga através das redes sociais fazem tanta inveja…

As principais feiras taurinas sem tauromaquia popular é algo como uma “Açorda sem Azeite”. Não ver touros nas ruas da Azambuja na Feira de maio é algo que refere que algo não está bem. É estranho!

Outro caso, com consequências sócio culturais de maior relevo foi a ausência dos encerros e da capeia nas aldeias do Sabugal, não vieram os “filhos da terra” para a capeia. Tempos atrás a população do Concelho triplicava com os emigrantes. 

Homens, forcão e touro numa disputa entre aldeias. Onde o orgulho de ser filho da terra e o bairrismo superam a coragem e a valentia de estar de frente a um touro.


Mas na Ilha Terceira, uma economia local está completamente parada. A corrida à corda, para além de ser motivo de festa para “as gentes da Ilha” é a base de uma economia local que dá emprego a muita gente. Quem já presenciou uma corrida à corda, pôde ver que não é só o touro que é venerado. Também umas variedades de produtos locais são consumidos. Fazendo as delícias de quem visita a ilha. Sobretudo se for convidado para o “Quinto Touro”, onde o bem receber dos terceirenses é formidável.


Voltando às corridas de touros, as empresas continuam a praticar preços um pouco elevados, para a realidade nacional. Se houver uma cedência de todos é capaz de os resultados melhorarem, mais espectadores decerto irão haver nas bancadas.

Casos como o Campo Pequeno, praticamente ”às Moscas” em 2 corridas que tinham importância, uma pela efeméride a outra pelo curro e cartel apresentado. Dá que pensar na causa raiz de tal ausência de público.

Outras há, que mantêm o público fiel apesar do preço dos bilhetes, casas cheias. Penso que “não descobriram a pólvora”, conseguem é prender o interesse do aficionado perante os cartéis que oferecem.

Além do mais há empresas que conseguem em plena crise pandémica organizar autênticos casos de sucesso, não só na bilheteira, mas também do espetáculo apresentado onde os artistas e touros cumprem. Onde o espectador no final da corrida não se sente defraudado pelo espetáculo assistido. 


Não é com uma política de “Terra Queimada” com a repetição de intervenientes que faz os aficionados voltarem às praças. Nem com o slogan “6 Terroríficos 6”. 

É certo que tem que haver na festa dos touros, perigo, emoção, arte e valentia. Mas promover a possível tragédia ou a capacidade de certos grupos de forcados pegarem autênticos bois de trabalho... Esse trabalho empresarial não é bem recebido para o aficionado, embora as corridas possam esgotar. As consequências por vezes estão logo na corrida seguinte. O público não corresponde!


Portugal, num ano normal teria o mês mais taurino em agosto com o mítico dia 15 de agosto, o dia mais taurino do ano. Este ano, os meses de setembro e outubro irão ter muitas corridas. Sobretudo a semana de 30 de setembro a 5 de outubro, o Ribatejo e Alentejo está em festa. Com importantes corridas de touros. Onde o normal seria a tardia feira de outubro de Vila Franca de Xira.


Ainda bem que vai haver corridas por outubro fora até tal vez ao 1 de novembro no Cartaxo. São todas importantes para a tauromaquia nacional.
Mas o mais importante do mês de outubro em termos tauromáquicos não são as corridas… São mesmo os ver os touros na rua!
Onde povo aficionado, vai poder agarrar-se às “tronqueiras”. Sentir a adrenalina de quem faz um recorte. Sentir o cheiro do touro a passar perto de si. Poder sujar as calças com o pó da terra que cobre as ruas. Recordar acontecimentos do passado. Ver os mais pequenos a escutar os avós ou a desenharem faenas na “arena do imaginário”.
Assim serão os touros a voltarem às ruas de Vila Franca de Xira numa manhã de Outono.