Por Jaime Martínez Amante )

"Doutor, duérmame". E adormeceu para sempre. Morreu às onze horas e dez minutos da noite de 11 de Agosto de 1974.

Numa entrevista concedida ao Semanário Ribatejano “ O Mirante”, em 17 de Setembro de 2017, seu irmão Osvaldo Falcão conta :

- “ Nunca quis ser outra coisa que não fosse toureiro e era só a isso que brincava na infância. Tínhamos um cão em casa dos nossos pais, em Povos, quando éramos pequenos. Chamava-se Czar, era de porte médio e fazia as vezes de toiro, corria muito depressa e o meu irmão toureava-o”, contou  Osvaldo Falcão, único irmão de José e que o conheceu melhor que ninguém.

Defende que para se ser toureiro tem de se ser humilde e afirmou, que José sempre o foi. “E dizia que quando morresse gostava que fosse na arena, a tourear. E conseguiu”.


José Falcão morreu há 47 anos, colhido na Monumental de Barcelona pelo toiro "Cuchareto", número 12, de 506 quilos, da ganadaria de Hoyo de la Gitana. Alternava nessa corrida em Barcelona com os matadores espanhóis Manolo Cortés e Paco Bautista e com o rejoneador Álvaro Domecq.

Curiosamente “Cuchareto” não estava incluído na corrida a lidar em Barcelona, tendo sido apartado à última hora.

A revelação é feita na edição nº 2040 da revista espanhola "Aplausos", pelo Drº José Fernández Prieto, antigo médico veterinário da Monumental de Barcelona. O referido veterinário,  explicou numa entrevista:

"Eu vi a corrida no campo na Semana Santa e depois um dos toiros, creio que o número 17, sofreu uma cornada e foi substituído pelo número 12, que foi o que causou a morte ao Maestro José Falcão".


Foi Álvarito quem primeiro saltou à arena a acudir o matador português, procurando estagnar-lhe com a mão a tremenda hemorragia no caminho que decorreu entre a arena e a enfermaria. Mal o deitaram na mesa de operações, José Falcão dirigiu estas palavras ao famoso cavaleiro: "Gracias, Álvaro, muchas gracias".

Estava consciente da gravidade da cornada. Depois virou-se para o Dr. Olivé, que se preparava para o operar e pediu: "Doutor, duérmame". E adormeceu para sempre. 

Casara no Inverno anterior e não chegou a conhecer a filha, que nasceria poucos meses depois da tragédia. Inicialmente sepultado em Barcelona, o corpo de José Falcão foi trasladado anos mais tarde para o cemitério de Vila Franca de Xira, onde repousa desde então em paz no  seu mausoléu.
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Fotos : João Carlos D'Alvarenga
e arquivo pessoal de Jaime Martinez Amante