Las tablas, las gradas, la artesanal plaza de toros en que se convierte cada año la plaza mayor de Barrancos... Y, sin embargo, otro año más, por la Covid, se queda solamente en el recuerdo... de cómo estaría en estos días el lugar, así como en la foto se ve, con todo dispuesto, o terminándose de disponer para la gran cita taurina anual.

Conhecidas como “Fêra de Barrancos”, as festas, que se tornaram “famosas” pelos touros de morte e misturam celebrações religiosas e divertimentos pagãos em honra de N. Sra. da Conceição, a padroeira da vila raiana do distrito de Beja, no Alentejo, tinham que decorrer no fim de agosto, mas... a Covid é quem mais ordena.

 


La doctora Esther Tereno honra hoy la TRIBUNA da TAUROMAQUIA IBÉRICA con un magnífico artículo que solamente ella, barranquenha de pro, conocedora como muy pocos de la realidad de aquel territorio fronterizo tan entrañable ¡y tan taurino!... solamente ella podía escribir.

Cuando agosto llega a su fin, cada año, las fiestas de Barrancos llaman a la puerta. Con todo lo que suponen, con todo lo que encierran para los amantes de una Tauromaquia tan especial, tan suya, tan valiosa Cultura como allí tienen y conservan desde tanto tiempo atrás. 

Pero estos son tiempos de Covid, malos tiempos para la lírica y también para la Tauromaquia, sea esta de Barrancos o la que fuere entre las muy diversas manifestaciones populares que la Tauromaquia tiene y que tanto conectan con el sentir de las propias gentes del lugar.

Son tiempos de Covid, de medidas restrictivas... por eso, este agosto, tampoco habrá la cita de Barrancos con su gran fiesta anual. ¿Qué sienten las gentes de Barrancos en este final de agosto, cuando saben que "su" gran cita no será posible?. ¿Qué sienten realmente...?. Se lo ha preguntado nuestro querido Jaime Amante a la doctora Esther Tereno y ella nos ha respondido con un brillantísimo artículo.

Queremos también agradecer muy expresamente a los responsables del Blog "Estado de Barrancos", a quien corresponden buena parte de las fotografías que ilustran este post que no es sino un sentido homenaje a las gentes de aquella tan querida tierra de los confines alentejanos, en donde hace ya bastantes años, tuvimos el honor de participar entre los oradores, en un extraordinario debate sobre el necesario y legítimo respeto que la Cultura y las Tradiciones barranquenhas merecen. 

Disfrúten ahora ustedes del texto de la doctora Tereno y de estas imágenes que acompañan la sentida evocación que Esther hace ...


Ganas de Fêra

Esther Tereno

E mais um Agosto chega, e menos uma “Fêra de Barrancos”, aquela que nos faz vibrar nos dias antes, o marco anual das nossas vidas!




Bem sei que não seremos os únicos com “dores de festas”, mas são as minhas, e dói muito! O evento aglutinador de todos os que estão fora com os que cá vivem todo o ano, os que são de fora mas que já têm um lugar cativo, os de primeira leva. Um frenesim, a felicidade, o cansaço, o cheiro, o barulho, os reencontros, as rotinas. O saber que nos encontramos todos por lá, vamo-nos “arrimando” uns dias antes, a dose de vitamina anual ideal, com muita animação, ambiente singular, uma das mais tradicionais e típicas festas do País.

Uma angústia pelo segundo ano consecutivo. Uns preferem não ir, para não aumentar esse aperto que levamos no peito, por não ter as rotinas, a praça despida dos seus tabuados, as ruas sem aquela agitação. Eu estou lá na mesma, já tenho o coração partido de qualquer das formas, e a terra que tanto nos dá, não merece que lhe voltemos as costas.

Sempre foram o ponto de partida para muitos Maestros, o umbigo do mundo centrado naquela praça ... rectangular e cheia de perigos, mas cheia de amor por sinal, a minha!

Esta mesma praça que acolhe os espetáculos nocturnos, e no Natal se transforma com o Lume comunitário. Quem não acredita em magia, tem que se render às evidências ...

São dias de muita festa e afición por esta terra Raiana, onde se respira uma gigante, uma imensa liberdade. É também isso que irrita tanto uns que nem por sombras a conseguem respirar.


Falando em liberdades, onde estava a nossa nos anos da chamada “polémica”, quando uns urbanitas-pseudo-animalistas se lembraram de nós? Quando de 1997 a 2001 tentaram fazer da nossa vida num inferno? Quando tivemos ameaças de bomba em casa? Quando tínhamos jornalistas e guardas plantados à nossa porta 24h/ dia? Quando nos chamavam de tudo e mais alguma coisa? Tudo porque alguém, teimoso por sinal e ainda bem, entendeu que não podiam terminar com a nossa liberdade de celebrar as nossas Festas.

Descartar dependências, não aceitar as limitações do politicamente correcto, não fazer como é costume, não baixar a bola – inventar a própria vida – é do caraças.

Tanto lutou por algo maior que ele, maior que nós, sempre bem acompanhado claro está, que hoje podemos desfrutar destes três dias por ano.

É preciso honrar e perpetuar a todo o custo a excepção conseguida para estes 3 dias, em que esta é a única Terra onde se podem matar os toiros depois de lidados!

Sou muito vaidosa da minha terra, caso não tenham reparado – e tenho a sorte de alguns talentosos meninos que por lá passaram vingassem neste mundo, por isso é fácil. E fico tão feliz que alguns já sejam reconhecidos por esse mapa taurino fora.

Passaram por esta praça grandes nome da tauromaquia como Miguel Baez “Litri”, Juan Garcia Mondeño, Alfonso Cadaval, Serafin Marín e muitos outros também por aqui passaram. De Portugal, Amadeu dos Anjos, José Falcão, José Simões, Nuno Casquinha, Luís Procuna e Nuno Velasquez. Convém recordar que Morante e Ferrera também passaram por Barrancos, e tantos outros!

O nosso querido Pepe Camara, acolhido e tão querido por todos, já vão perceber porquê. Em 1971 sofre uma gravíssima colhida, é imediatamente transportado de urgência para o Hospital de Beja e operado com êxito. Aqui, o meu Povo Barranquenho une-se e paga as suas despesas hospitalares. Nasce um respeito, uma admiração e uma amizade entre Pepe Camara e Barrancos que perdura até hoje. Como não ser agradecida pela terra onde nasci?

Lembro bem das noites passadas com os pais e amigos, intermináveis e com uma animação inenarrável, onde o Pepe cantava sempre o seu bailinho da Madeira, como bom Madeirense radicado na Venezuela. Voltava todos os anos, íamos atrás dele a todas as corridas que fosse possível. Quando era cabeça de cartaz em Barrancos, beijava sempre a areia da praça, uma emoção das grandes!

Uma admiração, respeito e amizade inigualáveis!

Não há nada mais libertador do que fazer algo só porque sim, porque queremos, sem necessidade, um ritual inexplicável, um sentimento de pertença e união, e há motivos que a razão não entende, nem tem que entender, basta sentir ...

 



Podem até não ser as melhores corridas, mas são as minhas, e existe qualquer coisa de espiritual nelas.

Com início a 28 de Agosto, com o dia religioso, a sua procissão solene e maravilhosa, culmina na manhã seguinte com o encerro dos toiros para a primeira corrida da tarde. A largada dos touros, a correria, a porta que se abre para algum descuidado fugir, a chegada dos touros à praça, são laçados e entram nos curros, onde aguardam pelas seis da tarde.

Há uma magia especial nestas festas, e não só pelo trabalho que deu manter a parte taurina, mas pela união (lá está, sempre a união), ambiente e especificidade das mesmas.

Com espetáculos na Praça á noite, bailes míticos no Quintalão até ao nascer do Sol, a culminar com uma açorda numa das Sociedades enquanto se espera pelo encerro dos toiros pelas 8h00 da manhã. Todo um ritual quase cerimonioso de “obrigações” que todos fazemos com um gosto tremendo, uma felicidade comunitária inexplicável, que nos faz esquecer cansaços e horas em dívida à cama.

O café e o tinto de verano antes da corrida numa sociedade, onde as cadeiras estão devidamente alinhadas e elevadas para os sócios poderem desfrutar da corrida e encerros. O calor, a música, o cante, a voz rouca, o cansaço que não deixamos vingar.

Às 18h00 entra a banda na praça, depois dos banhos característicos na arena, com as pessoas devidamente “arrumadas” nos tabuados, e aí começa o espetáculo.

Não há nada mais libertador do que fazer algo só porque sim, porque queremos, sem necessidade, um ritual inexplicável, um sentimento de pertença e união, e há motivos que a razão não entende, nem tem que entender, basta sentir ...

Que ganas de Fêra!!!

Así tendría que estar... y no está, en estas fechas, Barrancos, con su improvisada plaza de toros ya dispuesta y el personal de la Comisión de Fiestas trabajando a tope. 




El cartel que anunciaba los festejos al estilo de Barrancos, en el año 2019

Lamentablemente, así está, también este año de 2021, por estas fechas, la plaza mayor de Barrancos, sin nada de sus provisionales graderíos, sin la arena que cubría sus adoquines... La Covid no permite aglomeraciones de gentes; la gran fiesta taurina no tendrá lugar...